23 julho, 2009

Ensaios sobre a cegueira, a negligência e a ignorância

Os hospitais portugueses já tinham sido alertados e desaconselhados pela farmacêutica Roche a usar, em procedimentos oftalmológicos, o medicamento Avastin, que terá provocado uma infecção ocular a seis pacientes na passada sexta-feira no Hospital de Santa Maria e que correm agora o risco de ficarem cegos, noticia a revista “Sábado” na sua edição online. Numa primeira análise, estamos perante mais um caso de negligência (grosseira) médica, multiplicado pelo número de pacientes envolvidos. Aqui, como no caso dos gestores dos dinheiros públicos responsáveis pelas colossais derrapagens em obras públicas, um inquérito imparcial e conduzido por uma entidade independente só pode ter como conclusão, a ser provada a culpa dos médicos, a respectiva penalização profissional e criminal. Comparado com este caso, a passagem para o 9.º ano do jovem «cérebro» de uma escola de Viana do Castelo, com 9 «negas» às costas, é um caso que até dá vontade de rir. No fundo, é mais um exemplo de sucesso da nossa política de educação, obcecada por trabalhar para a estatística.

O excêntrico «naked cowboy»

O cowboy sem roupa está a fazer sensação em Times Square, convertendo-se numa das principais atracções turísticas da «cidade que nunca dorme». Robert John Burck, 38 anos, assim se chama, apresentou a sua candidatura à câmara de Nova York da maneira insólita que a foto documenta. O desafio não será fácil: derrotar o milionário Michael Bloomberg, que persegue o seu terceiro mandato na «big apple». Com o Costa e o Santana como cabeças de cartaz no duelo alfacinha, é caso para dizer que estávamos mesmo a precisar de uma «figurinha» destas para nos dar música, em vez de ouvirmos falar em túneis no Saldanha e jardins suspensos na Avenida de Berna. Os mais afoitos que mandem o mail que consta da página pessoal do «naked cowboy». Pode ser que o Mr. Burck perca amor aos mil dólares que ganha em 4 horas de exibição na rua para vir tocar à «capital do império» português.

«A felicidade não interessa a ninguém»

A revista «Time Out» é uma das revelações do mercado editorial do último ano. Prima pela irreverência e, mais importante, pela novidade e pela criatividade, algo que não abunda no panorama mediático. Na edição que saiu hoje para as bancas passaram um dia na redacção da revista cor de rosa «VIP», do Grupo Impala e trouxeram «notícia». Para quem a quisesse ouvir, a directora da publicação, Cristina Ferreira de Almeida, a tal que andou a fugir da actriz Sílvio Rizzo quando esta tentou fazer justiça pelas próprias mãos no seguimento de uma capa mais maldosa, afirmou durante uma reunião com os seus jornalistas: «A felicidade não interessa a ninguém e temos de ter isso em atenção». Uma tirada só comparável ao célebre «quem tem ética, passa fome», saído da boca de Teresa Guilherme, em plena febre «big brotheriana». Parece que as últimas capas da publicação são um barómetro eloquente para saber o que é vendável: a morte de Michael Jackson vendeu como se não houvesse amanhã, enquanto a revelação de Fernanda Serrano que estava feliz por ter superado o cancro ficou muitos furos abaixo.
Trata-se de um artigo de revista exemplar que devia ser mostrado nas escolas que ministram os pretendidos cursos de comunicação social ou de ciências da comunicação, como pomposamente sói dizer-se.

A frase do dia

«Está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor no défice do que eu», José Sócrates, durante o fórum "Novas Fronteiras", esta noite, no Porto, Agência Lusa, 22 Julho 2009