A tese da (in)governabilidade e do «nós ou o caos» vai ser brandida pelo PS nos quatro meses que faltam até aos proximos actos eleitorais. Nas autárquicas, e especialmente nas legislativas, será diferente. Na hora da verdade, confrontados com a escolha entre Sócrates e Ferreira Leite tenho dúvidas se a maior parte dos portugueses não se vai inclinar pelo «chefe» socialista. De qualquer forma, esta semana dos feriados promete ser de ressaca no Largo do Rato. O súbito desmanchar de feira e esvaziar da sala do Hotel Altis, testemunhado pelas câmaras de TV, foi algo de verdadeiramente arrepiante.
07 junho, 2009
Nulidade
Esta eleições tiveram uma assustadora estatística que dificilmente qualquer politólogo, por mais habilitado que esteja, pode descodificar: 164 mil votos brancos e 71 mil votos nulos. Significa isto que cerca de 235 mil portugueses saíram de casa e dirigiram-se até ao seu local de voto para «isto».
O fenómeno Bloco
Há alguns anos, na noite em que se demitiu do CDS, Paulo Portas disse estar envergonhado porque no seu país a esquerda «radical» tinha demasiado peso - algo sem paralelo na Europa, afirmou então. Esta noite não falou disso porque o CDS safou-se. Em 2009, a esquerda nacional, the real one, not the fake one, tem ainda mais dimensão político-partidária, com 21 por cento do eleitorado. A CDU manteve o seu habitual registo de votos, mas fica o amargo de boca por ter sido suplantada pelos rivais «bloquistas».
O Bloco de Esquerda foi o grande protagonista da noite eleitoral com três deputados eleitos, reforçando-se como uma força poderosa junto dos mais jovens e nos grandes centros urbanos. Muitos anunciavam que o partido era um balão a perder ar. Louçã deu-se até ao luxo de aparecer para a declaração habitual, depois da vencedora, Ferreira Leite. Pelos vistos, potencial de crescimento existe. Resta saber até onde pode ir este Bloco?
A Taça da Liga da política
Não foi exuberante a vitória do PSD, mas como popularmente se diz, por um voto se perde, por um voto se ganha. O PS vai fazer tudo nos próximos dias para equiparar o triunfo das europeias dos sociais-democratas ao triunfo do Benfica na Taça da Liga. Um prémio de consolação. Animicamente este resultado é importante, mas ao mesmo tempo soa a paradoxal saber que um dos seus obreiros, Paulo Rangel, vai fazer as malas para Bruxelas, esvaziando a sensação de refrescamento que trouxe para o partido.
A primeira vez de Manuela
Manuela ganhou pela primeira vez. Os sociais-democratas já estão a iniciar a romaria até à sede nacional do PSD para os previsíveis festejos da vítória nas europeias. A São Caetano à Lapa, onde não se realizava uma noite eleitoral há uma década, parece ter sido talismâ. O PS é admoestado pelos eleitores com um cartão muito alaranjado, mas decretar, como Marcelo Rebelo de Sousa, o «fim de ciclo» socialista e a consequente morte política de Sócrates é, à semelhança do que previsivelmente vai acontecer com o CDS de Portas, um manifesto exagero. Garantido é que o sonho da maioria absoluta do PS terminou esta noite.
Paralisia
Em dia eleitoral em toda a Europa, o site do Parlamento Europeu está «momentaneamente indisponível», pelo menos a esta hora, 1 da tarde, em Lisboa. A imagem perfeita de paralisia das instituições de um gigante com pés de barro.
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