O pai do «choque fiscal» que nunca existiu fez hoje uma valente birra por causa de um atraso do Primeiro-Ministro. Explicando: Sócrates atrasou-se quase 1 hora para a abertura de uma conferência no CCB e teve o desplante de dissertar sobre os sucessos do seu governo durante 50 eternos minutos. Os trabalhos arrastaram-se e a intervenção do vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Miguel Frasquilho, foi chutada para perto das 14 horas, quando os estômagos já davam horas. O ex-secretário de Estado considerou o atraso «lamentável», pese embora nunca identificar os alegados responsáveis, mas sempre acrescentou que assim o «país não sairá da cepa torta». O demagógico Frasquilho ainda arrebatou aplausos de algumas centenas de resistentes, mas veio, em casa alheia, dar lições de boas práticas, quando era mais um convidado. Se é certo que precisamos de políticos pontuais, certamente que o país está carente de políticos com maneiras e completamente distanciados dos poderosos lóbis da banca.
01 fevereiro, 2010
Rigorosamente uma bomba
Temos «novela» para uns dias e uma bomba em potência. Mário Crespo iria denunciar nas suas crónicas do «Jornal de Notícias» uma alegada conversa entre o PM e dois dos seus braços-direitos, em que o classificavam como um «problema» para resolver. O artigo foi cancelado e a colaboração do jornalista interrompida. Aqui fica o texto para reflexão:
«Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.»
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