O homem não muda. Crispado, arrogante e com um gozo tremendo em picar os entrevistadores. Sócrates teve, contudo, um erro de cálculo. Do outro lado, estava um José Alberto Carvalho sonso e mole, mas uma Judite de Sousa, qual fera enfurecida, depois de ter sido chamada de «tola» pelo Primeiro-Ministro, no seu habitual estilo desarmante do «está a perceber?» ou «não sabe?». A jornalista acusou o toque e elevou o grau de agressividade, brindado o líder do governo com uma incomodativa mirada glaciar durante todo programa.
Tratou-se, contudo, de um registo de entrevista mais equilibrado, em comparação com a entrevista de Outubro na SIC. Pena que o servilismo de Carvalho tenha borrado a pintura. De resto, mais do mesmo. A eterna vítima, mesmo recusando ter jeito para isso, as referências a Kafka e a frase velocipédica, que deve ter decorado na véspera, «cada partido pedala a sua bicicleta». Para o jantar dos portugueses famintos, Sócrates foi ao frigorífico buscar os suspeitos do costume - os painéis fotovoltaicos e a banda larga. O grande momento, mesmo a terminar, foi o comovente elogio ao director do DN, no seguimento do artigo que João Marcelino escreveu a "malhar" no telejornal das sextas-feiras da TVI. O tal noticiário que Sócrates chama de «telejornal travestido». Um «presente envenenado» para quem escreve no DN. Processa um jornalista do jornal da Avenida da Liberdade, que alegadamente o difama e, logo a seguir, elogia perante milhões de portugueses o director do mesmo jornal. Desconcertante.
O engenheiro deu ares de estar esgotado e seco de ideias. Nós, portugueses, começamos a ver a paciência a esfumar-se. As eleições europeias, com a ajuda do «Freepor» (no dizer do querido líder) podem ser o prenúncio de um virar de ciclo.