Aproveitando o vazio político existente em Washington, Israel desencadeou hoje a invasão terrestre na faixa de Gaza, operação a que chama de «auto-defesa». À excepção, claro, dos Estados Unidos, na pessoa da mera figura decorativa que é George Bush, toda a comunidade internacional condenou o acto. Desenganem-se os que pensam que isto se resume a um derby futebolístico, em que uns torcem por «A» e outros por «B». Em que há bons e maus. Nos conflitos quase eternos os maniqueísmos devem rejeitar-se. Agora, lançar uma operação massiva e organizada visando uma das cidades com maior concentração populacional por metro quadrado, com cerca de 1 milhão e meio de habitantes, só pode ser sinónimo de massacre e de banho de sangue. Dizer que só se quer neutralizar alvos militares na Palestina, evitando danos colaterais na população civil, é o mesmo que imaginarmos que os espanhóis invadem Lisboa, por terra, mar e ar, prometendo que só vão aniquilar os quartéis militares existentes na cidade.
O conflito do Médio Oriente será o primeiro duro teste de Barack Obama após o juramento de 20 de Janeiro. Para já, há um facto que pode indiciar más notícias. Rahm Emanuel, o chefe de gabinete da futura administração Obama, o que significa que receberá a responsabilidade pela coordenação do processo de tomada de decisões, é um judeu devoto. Veremos se a audácia da esperança não se transforma em frustração.