03 janeiro, 2009

A invasão


Aproveitando o vazio político existente em Washington, Israel desencadeou hoje a invasão terrestre na faixa de Gaza, operação a que chama de «auto-defesa». À excepção, claro, dos Estados Unidos, na pessoa da mera figura decorativa que é George Bush, toda a comunidade internacional condenou o acto. Desenganem-se os que pensam que isto se resume a um derby futebolístico, em que uns torcem por «A» e outros por «B». Em que há bons e maus. Nos conflitos quase eternos os maniqueísmos devem rejeitar-se. Agora, lançar uma operação massiva e organizada visando uma das cidades com maior concentração populacional por metro quadrado, com cerca de 1 milhão e meio de habitantes, só pode ser sinónimo de massacre e de banho de sangue. Dizer que só se quer neutralizar alvos militares na Palestina, evitando danos colaterais na população civil, é o mesmo que imaginarmos que os espanhóis invadem Lisboa, por terra, mar e ar, prometendo que só vão aniquilar os quartéis militares existentes na cidade.
O conflito do Médio Oriente será o primeiro duro teste de Barack Obama após o juramento de 20 de Janeiro. Para já, há um facto que pode indiciar más notícias. Rahm Emanuel, o chefe de gabinete da futura administração Obama, o que significa que receberá a responsabilidade pela coordenação do processo de tomada de decisões, é um judeu devoto. Veremos se a audácia da esperança não se transforma em frustração.

O sentido da guerra

As mulheres começam a ascender profissionalmente em muitas actividades por esse mundo fora. A política não foge à regra. Cristina Kirchner, na Argentina, Michelle Bachelet, no Chile, Angela Merkel, na Alemanha, Condolezza Rice, nos Estados Unidos, e, em breve, Hillary Clinton, que por uma unha negra falhou a presidência americana, são exemplos de que os políticos de salto alto começam a mandar. Diz-se até que a sensibilidade e o bom senso que habitualmente caracterizam o sexo feminino, aliado ao místico sexto sentido, podia mudar a lógica conflituante, agressiva e antagónica que caracteriza os chefes de Estado e outros governantes homens. Os princípios prevaleceriam sobre a conquista do poder a todo o custo. Não negamos que assim possa ser, mas como em tudo na vida há excepções. Tzipi Livni, a actual ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel e uma das «arquitectas» da ofensiva à Faixa de Gaza, recusa que a situação na Palestina careça de ajuda humanitária. Com eleições marcadas para Fevereiro, Livni arrisca-se a ser a segunda mulher israelita a chegar a primeiro-ministro depois de Golda Meir. Porventura, até lá, quer mostrar serviço. As sondagens recentes até dizem que a opinião pública aprova.

Pequenos, terríveis e com espírito critico

O "DN Gente" deste sábado desafiou 9 crianças de 9 anos a expressarem os seus desejos para 2009. Um dos «pequenos e terríveis» escutados foi o João. Por acaso, o único político que conhece é José Sócrates. O suficiente para lhe endereçar o seguinte recado através do jornal da Avenida e que trancrevemos na íntegra: «Quero aqui dizer que espero que, em 2009, o Sócrates, em vez de dar "Magalhães" aos meninos pobres, lhes dê comida», critica a criança. No artigo pode ainda ler-se esta observação: «Atenta, a mãe de João apressa-se a dizer que a ideia foi inteiramente formulada pelo filho, que assiste com frequência aos telejornais», escreve o jornalista. Se o «Portugal dos Pequeninos» tivesse direito a voto, provavelmente o panorama político seria outro.

Um engenheiro em Veneza

Sócrates entrou no «difícil ano» para os portugueses na romântica Veneza, tendo ficado alojado num hotel de 5 estrelas, na companhia da namorada e dos filhos, segundo noticia o «Correio da Manhã». Nada contra. Vida privada é vida privada. Recomenda-se, apenas, mais coerência entre as palavras e os actos...políticos. Que os ares da cidade italiana dos canais lhe abram os horizontes para 2009.

Às turras

Este duro combate na província de Guizhou, China, bem que podia representar o estado de tensão na política portuguesa no início de novo ano. Belém e S. Bento de candeias às avessas, já para não falar do PSD que continua em extraordinária ebulição.

Sermão de Santo Medina aos peixes

Medina Carreira voltou à carga no «Jornal das 9» com Mário Crespo. Para além da linguagem habitualmente empregue pelo fiscalista, nomeadamente com o recurso a vocábulos e expressões do género, «tolices», «irresponsabilidades» e «crimes políticos», retive a análise que fez à política de investimentos públicos prevista pelo Governo. Medina Carreira diz que «espera que não haja dinheiro para tentações», ou seja auto-estradas e TGV, justificando que Portugal, que o ex-ministro das Finanças de Soares apelida de «um país de pedintes», arrisca-se, caso os investimentos se concretizem, a ser o 4.º país com a maior linha de comboio de alta velocidade do mundo, quando, neste momento, já tem na área metropolitana de Lisboa a maior concentração de auto-estradas da União Europeia. O homem bem avisa, tememos é que continue a pregar no deserto.