Guterres era o «picareta falante». Sócrates é o perfeito «vendedor de aspiradores», que repete sem grande brilhantismo, mas com exasperante insistência os seus argumentos. Ouvimos o PM numa entrevista e depois numa conferência e ficamos a saber toda a sua cartilha. O homem é bom a decorar. Tão bom que se lhe perguntarmos sobre o flagelo da fome em África é capaz de debitar, de imediato, as virtualidades do investimento público em Portugal. Com um ou outro deslize, Sócrates até nem se saiu mal na entrevista com o contundente Miguel Sousa Tavares (finalmente um jornalista à altura e sem tiques de subserviência para entrevistar o líder do governo). Sobre o alegado epíteto de «chefe» que Rui Pedro Soares lhe teria chamado nas escutas, Sócrates tem a tirada da noite: «A mim ninguém me trata por chefe». Como o tratarão? Querido líder? Caudilho? Il Capo? Mister?
22 fevereiro, 2010
Um povo e o seu líder
O anúncio da TMN, expresso no símbolo em forma de cruz, é irónico da tragédia que impactou a «pérola do Atlântico». Goste-se ou não da personagem, Jardim tem sabido ser um líder à altura da adversidade. Falou o que tinha que falar, mobilizou os meios, motivou as desgraçadas populações e estimula a rede de influência que tem, dentro e fora do país, para conseguir uma ajuda comunitária que, certamente, estará assegurada. Assim se explica, mesmo que parcialmente, o que faz uma população confiar no seu presidente há tantos anos. O que está mesmo difícil de imaginar é a Madeira sem Jardim.
Prova de fogo
É certo que Sócrates diz o que quer e quando quer. Programado como um robô, o Primeiro-Ministro não diz, nem mais, nem menos uma virgula do que articulou nos bastidores com os seus assessores. Hoje será testado na edição inaugural dos «Sinais de fogo» de Miguel Sousa Tavares, às 21 horas, na SIC. Se o Miguel não foi domesticado entretanto, desde que saiu da TVI, e se resistiu a eventuais «acordos de cavalheiros» com o líder do governo para a realização da entrevista, então podemos ver Sócrates confrontado com muitas dúvidas que permanecem por esclarecer. A ver vamos, como diz o cego.
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