Para o ano será pior
«O que levou o primeiro-ministro a anunciar novas medidas de austeridade para 2013 quando na próxima semana serão conhecidas os resultados da quinta avaliação da troika ao memorando de entendimento que o país assinou? A resposta só pode ser uma: a troika vai aceitar a derrapagem do défice orçamental este ano (5,3% contra os 4,5% definidos) mas vai manter o objetivo de 3% em 2013. E isso quer dizer outra coisa: a austeridade será mais pesada no próximo ano mas, ao contrário do que pediu o Presidente da República, agravará as desigualdades. Com efeito, em 2013, os funcionários públicos ficam sem dois subsídios e os trabalhadores do setor privado sem um. É o caminho para nunca mais existirem. Em contrapartida, as empresas tem a sua tesouraria aliviada em €2100 milhões de contribuições para a Segurança Social. Espera assim o primeiro-ministro que o setor privado consiga, por esta via, contribuir para combater o flagelo do desemprego. É muito pouco provável. Com estas medidas, a procura interna vai afundar-se ainda mais no próximo ano. As empresas venderão menos - e quando muito manterão os atuais postos de trabalho. Seguramente que não investirão nem contrarão mais gente. Tentarão sobretudo sobreviver até passar o mau tempo. Quem ganhará serão as empresas exportadoras, que ficam com margem para tornar os seus produtos mais competitivos. Mas a recuperação da economia e o combate ao desemprego não podem assentar apenas em 18.000 empresas exportadoras.
O atual colapso da economia portuguesa não é apenas resultado de erros acumulados no passado. Resulta também da orientação económica que tem vindo a ser seguida. As medidas ontem anunciadas insistem no mesmo caminho. É pouco inteligente pensar que os resultados serão diferentes».
Nicolau Santos, «Expresso Online», 7 Setembro