21 abril, 2008

A maledicência

Francesco Alberoni, o sociólogo italiano que tem abordado nos seus múltiplos livros as emoções, escreve hoje no «Diário Económico» um artigo para ler, copiar e difundir por amigos e, especialmente, por colegas de trabalho. Pode ser que alguém tenha o discernimento de se ver ao espelho.

«A maledicência rodeia-nos, mas assume várias formas, mais ou menos maldosas e mais ou menos perigosas. A modalidade mais simples é a do mexerico, uma forma de ter informações sobre as relações humanas escondidas, não oficiais, um vasculhar nos sentimentos dos outros, nas suas relações eróticas privadas. É essencialmente feminino, porque são as mulheres que estudam a alma humana, o amor, o ódio, o erotismo, e comentam tudo isso, diariamente, entre si. No mexerico, também é possível incluir informações maldosas, que se tornam uma arma nas mãos de quem tem ressentimentos e rancores.Depois, há a maledicência dos locais de trabalho, de todos os locais de trabalho, dos hospitais à universidade, e que nasce das rivalidades, das invejas e das injustiças. Já me aconteceu várias vezes, pouco tempo depois de ser chamado a gerir uma nova instituição, alguém vir ter comigo a dar-me informações – confidenciais, claro – um simples “diz que disse”, sobre fulano ou sicrano, as suas histórias sexuais, os seus erros, as confusões que arranjaram. A explicarem-me por que é que tal pessoa fez carreira e a outra não. São mexericos maldosos para se libertarem dos adversários, para subir na carreira, mas que incluem algumas verdades. É por isso que são incentivados por alguns maus dirigentes. A terceira forma de maledicência é “o lamento”. Algumas pessoas, quando consideram terem sido injustamente tratadas por outras, acusam-nas de serem delinquentes, canalhas e responsáveis por todo o tipo de malefícios. Contudo, se depois essas mesmas pessoas as ajudarem, passam rapidamente a serem corajosas, inteligentes, e honestíssimas. É um veneno que circula muito nos corredores do poder e da política. Depois, temos a maledicência que nasce da inveja e que atinge quem está no topo, quem tem poder. Atinge muito menos os que têm posições consolidadas, os duros, os violentos, que incutem medo e que se vingam, e muito mais as pessoas disponíveis e generosas, que fazem tudo bem e são amadas pelos outros. Porque o objecto da inveja são sempre os melhores e não aos piores. A inveja odeia-lhes o valor.Por último, temos a calúnia intencional, a mentira lançada para destruir o crédito de quem está no tipo, para lhe roubar o lugar. É a calúnia que prepara e justifica a conspiração, como no caso de César, acusado de querer ser rei. Ou como no caso do General Dalla Chiesa, acusado de se evidenciar demasiado. É um método que é sempre aplicado contra quem criou algo de grande mas cuja única defesa é o seu valor e rectidão.»

1 comentário:

Anónimo disse...

espelho...espelho meu...