Afazeres profissionais impediram-me de assistir ao que parece ter sido uma das tardes mais animadas da política à portuguesa dos últimos tempos. Dois pontos altos. No final do Conselho de Ministros, questionado pelos jornalistas sobre se seria justo aumentar o valor do IVA de produtos considerados indispensáveis como o pão, o leite ou a água, José Sócrates sublinhou que «estamos a falar de pão, leite, água, Coca-cola, Pepsi-cola e outras coisas que não costumam ser referidas», e defendeu que «há famílias, como é o meu caso, que compram esses produtos a uma taxa reduzida de 5% - como uma Coca-cola - o que, verdadeiramente, temos que reconhecer, também não é muito justo». Mais tarde, na sede do PSD, Passos Coelho, com ar abatido, pede desculpa (porque carga de água?) aos portugueses por ter dado a mão a Sócrates na viabilização no famigerado pacote de austeridade, mas quem devia pedir perdão são os portugueses que votaram em Sócrates e na sua pandilha. O «bloco central» informal, constituído em versão 112, até acaba por dar imenso jeito aos dois senhores: Sócrates continua «ligado à máquina» mais ano e meio e Passos continuará em pousio até achar que chegou a sua oportunidade. Fazendo uso da deixa do engenheiro, estes políticos estão cada vez mais parecidos, na sua arte de mentir e dissimular, com a descrição que Fernando Pessoa fez da Coca-Cola, a mais universal das bebidas, «primeiro estranham-se e depois entranham-se».
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