28 março, 2013

Lendas e narrativas


Foi anunciado como um acontecimento e não desiludiu. O fim do silêncio do engenheiro foram cerca de 90 minutos de puro entretenimento no canal público de televisão. Pode parecer embaraçoso confessar, e admito que é uma estranha forma de sebastianismo, mas já tínhamos algumas saudades da gravatinha cor azul turquesa, do franzir do sobrolho, do seu ar de enfado, do esgar de reprovação, do seu ar cândido subitamente alterado para o registo crispado e colérico, da arte de manipular a conversa e de condicionar os entrevistadores. Os dois anos de exílio em Paris não o mudaram nada. Penso que até o refinaram. Obstinadamente preparado, como sempre, mesmo que à custa de muita mentira e efabulação, denunciou os «embustes», a «mistificação» e tudo fez para contrariar as «doutrinas» e as «narrativas», termo que repetiu «ad nauseam». Citou a «Divina Comédia» de Dante, confessou estar a colaborar com a RTP «pró bono» e referiu que foi para Paris com um empréstimo do seu banco, a CGD. Vingativo até à medula, ajustou contas com os seus inimigos com deleite, quase com prazer masturbatório. Primeiro com Cavaco, «a mão escondida por detrás do arbusto» (uma frase tão deliciosa quanto assassina), acusando-o de fazer cair o seu governo e depois com as «ignóbeis campanhas» do Correio da Manhã, durante a sua permanência na «cidade luz». Foram duas bazucas dirigidas a Belém e ao jornal da Cofina. Como se saiu o ex-Primeiro-Ministro? Muito bem. Disse muitas verdades, mas se estivesse ligado a um detector de mentiras certamente a máquina teria explodido por exaustão de funcionamento. Este foi o seu primeiro exercício de vitimação. O primeiro acto. Depois da Páscoa o renascer das cinzas terá mais episódios. Audiências garantidas.

26 março, 2013

O espião que regressou ao tacho

Por falar em vergonha ou da falta dela, o Governo arranjou um tachinho ao espião Jorge Silva Carvalho na Presidência do Conselho de Ministros. Onde está que, onde está quem? O Relvas!!! À descarada. Estes políticos são verdadeiras meretrizes sem pudor. Ao pé do espião o amigo Franquelim é capaz de ser o tipo mais ingénuo deste mundo e arredores.

Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu

Já agora, ainda voltando a falar de vergonha ou da falta dela, o Almeida Henriques vai abandonar o Ministério da Economia para ir tratar da vidinha dele em Viseu, onde se candidata a sucessor do «Saddam. das Beiras», Fernando Ruas. A falta de pudor é tal que o Henriques promete ficar até Maio em Lisboa a tomar conta de uns dossiers que tinha em mãos. Coisa boa não vai ficar a fazer. Só depois é que sai para o seu combate eleitoral. O cúmulo é que ninguém o substitui. O trabalho já era pouco na Horta Seca....

Quem tem medo do seu olhar feroz?

Quando políticos se põem a falar de políticos só pode sair muita porcaria para a ventoinha. Os podres vêm ao de cima, como um esgoto entupido. Morais Sarmento disse de Sócrates que o ex-PM «é um homem sem medo e sem vergonha», Judite de Sousa diz dele que é um entrevistado que se prepara como ninguém para as entrevistas e tenta intimidar com o seu «olhar feroz». Isto só serve para realimentar um mito adormecido. Sócrates regressa amanhã ao bater das 21h. Quantos de nós é que vão ter saudades dele?

25 março, 2013

Mais outro pensionista desesperado

Dia histórico. O «citizen kane» português anunciou em comunicado que aos 75 anos, após 50 de descontos, vai meter os papeis para a reforma. Emocionante. Acontece que se os seus funcionários pensavam que o Balsemão ia calçar os chinelos e passar o dia a tratar do jardim do seu T1 na Quinta da Marinha o melhor é perderem a esperança. O homem já delegou funções no Pedro Norton e na sua vasta prole, mas promete andar por aí, como um dia disse o Santana. Diz ele que vai continuar a andar entre Carnaxide e Caxias, onde se localizam as sedes da SIC e do grupo Impresa, participando nas reuniões, trocando opiniões, influenciando, conspirando e dando umas dicas aos seus obedientes jornalistas. Basicamente, nada muda. A Segurança Social é que vai ter mais uma famélica boca para alimentar.

Troco de arrotos

Paulo Bento tem qualidades, limitações, mas de uma coisa ninguém o pode acusar: de falta de coragem para enfrentar o Papa Pinto da Costa. A partir de Baku, onde Judas perdeu as botas, o seleccionador nacional lançou um míssil teleguiado com destino ao Dragão, voltando a entrar em polémica com o treinador do FC Porto, sugerindo que continuasse a «debitar postas de pescada», caso não percebesse os seus argumentos para utilizar jogadores do clube do Dragão. Parece-me uma linguagem bem do povo, mas seria perfeito se tivesse utilizado o vocábulo «arrotar», fiel à expressão popular imortalizada pelo nosso povo.

Dino Sócrates

Ficou célebre a música «Meu Querido mês de Agosto», da autoria do malogrado Dino Meira, um emigrante de sucesso em França, que engrendava umas piroseiras musicais de fazer chorar as pedras da calçada. «Ainda ontem estava em França e agora já estou cá», era uma das passagens da letra. Bem apropriada ao vai e vem que o engenheiro vai passar a fazer nas próximas semanas.

24 março, 2013

Os lamentos do capataz etíope

Parafraseando o electricista Arménio, o escurinho do Selassié diz que «é muito desapontante» que os preços da luz e das telecomunicações não tenham descido. E mais desapontante ainda é que estes camaradas da troika ainda não tenham desamparado a loja. Ironias deste valente povo e imortal que com oito séculos de história ainda acaba a receber ordens de um etíope.