07 dezembro, 2008

Pensamento erudito do fim-de-semana

A Língua Portuguesa é estupenda e presta-se a estas coisas: Se o Mário Mata, a Florbela Espanca; o Jaime Gama, o Jorge Palma; o que é que a Rosa Lobato Faria? E, já agora: alguém acredita que a Zita Seabra para o António Peres Metello?
Fonte: Autor anónimo do século XXI

Ele trocava o TGV por uma justiça melhor e uma universidade de excelência

Esteve escassos quatro meses e meio como titular da pasta das Finanças do governo de Sócrates, mas a política de obras públicas, assente em mega-projectos, e «outros assuntos» que rejeita falar, determinaram a sua saída. Retornou à docência, concretamente à Faculdade de Economia e Gestão da Nova, a melhor escola da área em Portugal. Em entrevista ao «Ensino Magazine» de Dezembro, Luís Campos e Cunha afirma que a classe política não dá respostas para a crise e que se tornou um refúgio para pessoas que «não sabem fazer mais nada». No sector educativo, defende um processo de avaliação de professores faseado e a redução drástica do número de universidades públicas e privadas. Campos e Cunha refere ainda que trocava os TGV e as auto-estradas planeadas por um sistema de Justiça mais eficiente e uma universidade de excelência.

Jornal de clube pouco alinhado

Foi uma semana difícil na Luz. O empate com o Setúbal incendiou os ânimos e o editorial do director do jornal do Benfica no jornal do clube atirou gasolina para uma fogueira já ateada. José Nuno Martins criticou, sem papas no punho, por assim dizer, a «enervante displicência»,bem como «a falta de nobreza e competitividade». Um comportamento de todo atípico mas que até pode ter servido de tónico aos encarnados que esta noite cilindraram o Marítimo, no Funchal, por 6-0.

A pista espanhola do BPN

Oportuna a chamada de atenção do blog Da Literatura de Eduardo Pitta para a urgência de traduzir e colocar à venda em Portugal o livro «Los PPijos» - ou seja, os filhos do Partido Popular espanhol, de entre os quais se destaca Alejandro Agag, genro de José Maria Aznar, muito próximo de Manuel Dias Loureiro e ex-colaborador do BPN, e alguns dos seus amigos, que enriqueceram à custa de nebulosos relacionamentos internacionais. Numa altura em que se traduz e pública tanto «lixo», talvez fosse interessante dar à estampa um livro de actualidade.

Uma beata opinião

Publicado em dia feriado, o da Restauração, o artigo de João César das Neves no DN passou algo incógnito, mas o sempre atento Pacheco Pereira fez questão de o recordar nos seus vários fóruns. O historiador da Marmeleira referiu que a prosa do beato economista foi «abafado num grande silêncio». Como não alinhamos em censuras, nem prévias nem à posteriori, tomamos a liberdade de o publicar na integra:

A imagem mediática dos media

«Ninguém emenda um erro que não reconhece. Quem acha que tudo vai bem só corrige o mal demasiado tarde. A recente crise financeira mostra muitos casos destes. Em Portugal, onde vários sectores se reconhecem em graves dificuldades, há um que se julga em sucesso. Por isso é esse que tem realmente problemas graves. Não por serem grandes, mas por não serem assumidos.Hoje o jornalismo reina soberano. Faz e desfaz poderes, promove e derruba personalidades, decreta juízos, recebe vassalagem de todos os interesses. Para um sector que ainda há anos passou por turbulências sérias, dificilmente se imaginaria situação mais vantajosa. Precisamente por isso, o jornalismo português vive um dos momentos mais perigosos da sua história.A nossa imprensa traz pouca informação. Muita análise, intriga, provocação, boato, emoção, combate, mas pouca informação. O público não quer jornalismo, quer entretenimento. Para ter sucesso o repórter precisa de ter graça, ser espirituoso, ver o aspecto insólito. Assume uma atitude de suposta cumplicidade com o leitor, ouvinte ou espectador desmontando para gáudio mútuo o ridículo que achou que devia reportar. Antecipa no relato o que assume ser o veredicto popular, condenando ou absolvendo aqueles que devia apenas retratar.Assiste-se a uma verdadeira caça ao deslize, empolado até à hilaridade. Só triunfa se apanhar desprevenido e atrapalhar o entrevistado. Enquanto descreve o que vê quase às gargalhadas, não se dá conta da perda de dignidade profissional. Tem sucesso, mas não rigor. Quem segue a notícia fica com a sensação de ouvir aquele que, dos presentes, menos entendeu o que se passou no acontecimento.Aliás, relatar o sucedido é o que menos interessa. O jornalista vai ao evento para impor a agenda mediática que levou da sede. A inauguração de um projecto revolucionário, por exemplo, só importa pela oportunidade de fazer a pergunta incómoda ao governante sobre o escândalo do momento. Investimentos de milhões, trabalho de multidões, avanços e benefícios notáveis são detalhes omitidos pela intriga picante que obceca o periódico.É significativo que existam em Portugal muitos analistas famosos e respeitados, mas poucos jornalistas reputados pelo facto de serem jornalistas. Os directores de informação costumam ser também colunistas. As referências da classe são comentadores. Parece que informação e reportagem é actividade menor.O mais curioso é que, embora a imprensa escrita e falada seja intensamente opinativa, nunca se assume em termos políticos. Não existe em Portugal o alinhamento ideológico explícito de jornais e emissoras de referência que existe em todos os países. O público não é informado da orientação do meio que escolheu, porque todos dizem apenas a verdade. Todos os repórteres têm opinião, mas todos são isentos de orientações e partidarismos. Os resultados são caricatos.O actual Governo goza de clara benevolência jornalística. Apesar da contestação e inevitáveis "gafes", o tratamento não se compara com o dos antecessores. Por outro lado a imprensa já decidiu que Manuela Ferreira Leite não tem hipóteses. Não interessa o que pensa ou propõe, apenas que não sabe lidar com os media, o pecado supremo.Suspeita-se de campanhas organizadas, mas talvez não seja manipulação política, até porque o PS já sofreu o mesmo tratamento. A regra da imprensa é que "mais vale cair em graça que ser engraçado". O Bloco de Esquerda é sempre fresco e interessante, por muitos chavões bafientos que repita, enquanto PCP e PP são desprezados, por vezes sem disfarce. A culpa disto é em boa medida dos sujeitos, mas os mensageiros não são neutros.Existe muita gente honesta e bem-intencionada no jornalismo. Mas é evidente (e paradoxal) que a imprensa tem hoje uma má imagem. Também é verdade que existe uma falta de imprensa verdadeira, objectiva, respeitada, idónea. Muitos dos que relatam o jogo participam nas equipas. Quando o jogo se suja, avolumam-se as suspeitas. Isto ainda não afecta o poder da imprensa, mas já degrada a classe.»

O Rei Midas

É difícil estimar, com rigor, ordenado de Cristiano Ronaldo, mas em termos oficiosos pode dizer-se que aufere 25 mil euros por dia e 25 cêntimos por segundo, quando grande parte da população vive com apenas meia dúzia de segundos dos rendimentos diários do jogador. Hoje, recebeu mais um troféu (o ballon d'or) para decorar a luxuosa mansão de Manchester.