18 outubro, 2009

Vai tudo abaixo

Sempre achei que das três denominadas «obras de regime» que a nação levou a cabo na última década, o Euro 2004 foi (e continua a ser) a mais nefasta para o Estado. Derrapagens à parte, a Expo '98 transfigurou uma zona moribunda da capital, enquanto o CCB se tornou uma referência cultural inquestionável. O europeu deixou o país um mês em euforia, uma espécie de «Prozac», mas legou-nos uma pesada factura, aparentemente invisível, mas que continuaremos a pagar: os custos de manutenção dos estádios. Autênticos elefantes-brancos, como o de Leiria, Faro/Loulé e Aveiro. Sobre este último, construído em terra de ninguém, e onde o clube da terra, o Beira-Mar, milita na segunda divisão, o presidente da concelhia de Aveiro do PSD aventou a possibilidade de deitar abaixo o estádio, considerando-o um «fardo» para o município: «Penso que valia a pena avaliar seriamente a hipótese de implodir a estrutura e substituí-la por outra», disse Ulisses Pereira.
Há, de facto, infraestruturas, mais racionais e funcionais, com 10/15 mil lugares capacidade e associadas a áreas comerciais, que envolveriam custos de manutenção bem mais residuais. Só se lamenta que, em pleno festim, ninguém tenha pensado nisso e que o poder político tivesse passado um cheque em branco às autarquias e à construtoras. Para além de lamentar, também se questiona como é que ninguém vai preso. Em Portugal só vai «dentro» quem mata e, de preferência, com requintes de malvadez.

A frase do dia

«(A asfixia democrática) foi um tiro no pé, foi um erro (...) Para o comum do cidadão falar em asfixia democrática não sabe o que quer dizer. Sinceramente. Eu andei em todo o distrito de Braga, nas feiras e tudo isso. Não fazem qualquer ideia do que é isso. Sabem é que há desemprego, não recebem subsídios da agricultura, o preço do leite desceu. Isso sim, sabem. Sabem de segurança os ourives que são roubados, isso tudo sabem», João de Deus Pinheiro, criticando Manuela Ferreira Leite no dia em que depois de ser eleito renunciou ao seu mandato de deputado, entrevista «CM/RCP», 18 de Outubro 2009

Os «turbo-políticos»

Ficou célebre a expressão «turbo-professores», mas agora surge outra, «turbo-políticos», que promete pedir meças. Sem pretender questionar a capacidade de trabalho destes autênticos malabaristas do tempo, gostava de saber como é que Hermínio Loureiro conseguiu ser deputado e presidente da Liga de Clubes de Futebol durante alguns anos e como é que dentro de pouco tempo conseguirá conciliar o cargo que mantém na entidade que organiza o campeonato de futebol e a nova atribuição de presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis. Justifica ele que Oliveira de Azeméis até fica mais perto do Porto (sede da Liga) do que de Lisboa. Continuo sem ficar convencido. A acumulação de cargos, ainda por cima em entidades com interesses que conflituam, continua a ser uma chaga nacional, sem leis que a trave.

Calou-se a Sanfona

A notícia passou completamente ao lado no rescaldo das autárquicas. Sónia Sanfona perdeu as eleições em Alpiarça e, devido às regras do jogo definidas pelo PS, não estará sentada no Parlamento. Tendo ficado conhecida por por ter sido a relatora da comissão parlamentar do caso BPN, Sanfona fica agora a aguardar que a «máquina» socialista lhe conceda alguma benesse. Uma secretaria de Estado com pouca visibilidade ou a presidência de um institutozinho não seriam hipóteses a recusar.

Magia branca

O «CM» faz na sua edição dominical uma produção digna do tablóide londrino «Sun». Dois repórteres foram até Madrid, no encalço do «bruxo» Pepe, com seguranças e secretária à disposição. Conseguiram uma entrevista em exclusivo com o dito «bruxo», que garante vai aniquilar a carreira de Cristiano Ronaldo «em três ou quatro meses». Suspeita-se que Paris Hilton é a cliente misteriosa que encomendou os serviços a este charlatão.

Guerra urbana

O Brasil é um caso económico e diplomático de sucesso, começa a afirmar-se como uma super-potência muito para além das fronteiras do Mercosul, mas continua a braços com uma complicadíssima situação de descontrolo securitário. O Rio de Janeiro está a ser palco de uma guerra urbana, protagonizada por grupos de narcotraficantes rivais, com alguns dos líderes destes grupos coordenando as operações a partir da cadeia, que procuram conquistar territórios. A polícia revela-se impotente para travar a escalada de violência e viu um dos seus helicópetros ser abatido. Só neste fim-de-semana já morreram de uma dezena de pessoas. Um cenário assustador para um cidade que vai receber uns Jogos Olímpicos dentro de 7 anos.