19 junho, 2010

Dar bandeira

Informa a Lusa que a maior bandeira de Portugal, localizada no alto do Parque Eduardo VII, não se encontra a meia-haste, contrariando a deliberação de luto nacional por parte do Governo. Como a bandeira dá demasiado nas vistas devido à sua dimensão, só pode ter sido mesmo esquecimento. E dos grandes.

Panegírico a um Nobel

Os funerais dos nossos dias envolvendo figuras mediáticas estão a tornar-se autênticas festas, onde políticos, artistas e outros personagens socialmente relevantes se encontram, colocando-se em bicos de pés e fazendo de tudo para debitar umas palavritas para os sedentos microfones dos repórteres. Geralmente quase ninguém tece uma crítica ao defunto. De odiado, censor e irrascível, o morto é imediatamente «canonizado», mesmo num país laico, no que constitui um superlativo elogio fúnebre. Em Portugal os diabos quando morrem parece que ganham asas.

«Flirt» is in the air

Devido ao falecimento do Nobel passou algo à margem da actualidade a calorosa, quase carnal e erótica, troca de galhardetes entre Almeida Santos e José Sócrates. Agora que o Primeiro-Ministro terminou o «flirt» que mantinha com o «pai» Soares, vira agora toda a sua atenção para o ex-presidente da AR e presidente honorário do PS, elevando-o a referência histórica. Numa cerimónia que decorreu na Guarda, Almeida Santos comparou Sócrates ao Marquês de Pombal devido ao seu impulso reformista e considerou-o mesmo o melhor chefe do governo desde o 25 de Abril. José Sócrates devolveu o elogio na mesma moeda e classificou Almeida Santos como um sendo um dos «príncipes da democracia». «Digo com emoção que nunca conheci um político com tão bom coração, tão bom companheiro, tão bom amigo, como Almeida Santos», prosseguiu Sócrates. Tocante. O pior é que os que sofreram e sofrem na pele o processo de descolonização e as políticas muito pouco socialistas do executivo não devem pensar o mesmo. É tudo uma questão de perspectiva.

Dois casos, um castigo

Anelka foi expulso da concentração francesa por ter insultado o seu treinador, Domenech, no intervalo do jogo com o México, com seguintes palavras, que reproduzimos em francês, para não descontextualizar: «Va te faire enculer, sale fils de pute». Anelka não pediu desculpa e recebeu guia de marcha para casa. Deco não invectivou Queiroz, mas pelo menos contestou fortemente a sua autoridade. Valeu-lhe o facto de se ter desculpado, provavelmente a pedido de muitas «famílias» no seio do grupo. Octávio Machado defende hoje na imprensa que o luso-brasileiro devia ter abandonado de imediato a África do Sul depois do que disse. Deco sabe que o seu estatuto e o facto de ainda não ter um concorrente à altura para o seu lugar permitem-lhe fazer e dizer o que quer. Quem perde é a selecção.

Fruta da época

É consensual que os jornais já não valem por si. Todos os dias oferecem DVD's, livros de bolso, trens de cozinha, tudo artefactos que ficam bem em qualquer lar que se preze. O jornal «I», a passar por uma fase de indefinição na gestão e na direcção, deu-se ao luxo de oferecer aos seus leitores, com a aquisição da edição deste sábado, uma caixa de cerejas, com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Resende, terra da boa cereja. Os lojistas e donos de quiosques é que andam com a cabeça à roda com a imparável imaginação dos responsáveis dos jornais para captar novos leitores. Não se admirem se qualquer dia junto ao periódico venha um qualquer animal para o nosso zoológico doméstico.

Mau tempo no canal presidencial

Quis o destino que as mini-férias de Cavaco nos Açores, acompanhado da sua habitual vasta comitiva familiar, coincidissem com a morte e o funeral de Saramago, o escritor maldito para o regime cavaquista. O PR emitiu na página da Presidência a mensagem que se impunha, mas não vai marcar presença nas cerimónias fúnebres que se realizam este domingo, em Lisboa. O engraçadinho do Prof. Marcelo veio já deitar água da fervura, afirmando que Cavaco estará em «espírito» na despedida ao escritor.
Provavelmente Cavaco não quis parecer hipócrita depois do que se passou durante o seu governo, mas a verdade é que o Presidente, como faz sempre questão de realçar, exerce o seu mandato em nome de todos os portugueses.
Tudo corre mal ao inquilino de Belém. Menos mal que a concorrência para as eleições do próximo ano ainda dá mais tiros nos pés.

Obituário em menos de 140 caracteres

Mão amiga fez-nos chegar uma mensagem colocada no twitter do grupo parlamentar do PSD pouco depois de se ter sabido da morte de José Saramago, e posteriormente retirada: «Levem o martelo, que o Saramago foice». A máquina de comunicação do PSD trabalha com eficiência, mas também comete deslizes. Há certas tiradas que não se controlam.