29 dezembro, 2008

O garrote

Há coincidências do Diabo. No dia em que se soube que os jornais diários subiram as suas vendas, saiu a notícia que o Governo se prepara para deixar de publicitar actos na administração pública nos matutinos, passando a fazê-lo num site que vai criar para o efeito. As perdas dos jornais podem situar-se nos 40 por cento. Acentua-se o garrote à imprensa e perante tal cenário é de prever que apenas sobrevivam os títulos financeiramente mais capazes ou então os mais subservientes aos detentores do poder.

A declaração da impotência presidencial

Mais inteligível desta vez, a declaração de Cavaco sobre a promulgação, a contragosto, do Estatuto dos Açores, foi a assumpção da sua impotência presidencial. Só lhe resta mesmo a «bomba atómica», chamada dissolução da AR, mas apenas para usar em caso extremo - nomeadamente se houver um Governo Santana Lopes por perto. O PR adjectivou, como nunca antes tinha sido visto, falou em «absurdo», «lealdade» e «interesses partidários». Disparou em todas as direcções e certamente que alguns dos «tiros» iam para Sócrates. O casamento entre Belém e S. Bento, ou a «cooperação estratégica», como pomposamente foi chamado, não acabou, mas, como a democracia, ficou muito «abalado». O que foi não volta a ser. E dia 1 de Janeiro há mais recados na tradicional mensagem de Ano Novo do Presidente. O voto dos imigrantes e o OE 2009 são os próximos conflitos em perspectiva, num ano em que os portugueses serão convocados para ir às urnas em três ocasiões.
Tenho o feeling que o panorama político vai, nos próximos meses, tornar-se mais apetecível do que as habituais (e já enfadonhas) tricas do futebol. Um duelo Sócrates-Cavaco pode vir a ser tão ansiado pelas massas como um derby Benfica-Sporting.

O barco ou o Chelsea?

A crise toca a todos. E nem Roman Abramovich escapa. O magnata russo tem um valente dilema para resolver: vender o seu luxuoso iate «Pelorus» ou desfazer-se do Chelsea FC. A depreciação dos activos levou ao encolhimento da sua fortuna pessoal de 16.700 milhões de euros para «apenas», dizemos nós, 2.300 milhões. Dizem as más línguas que Roman, ao ver as suas posses minguarem, adiou o casamento com a sua namorada e cancelou uma mega party com 60 amigos na estação de ski de Aspen, nos states, consolando-se, antes, com o recato de um dos mais luxuosos hotéis moscovitas com vista para a Praça Vermelha, onde só terá de desembolsar uns parcos 120 mil euros. Coisa pouca.

Investir na elegância e no charme

Conta o «Sol» que os membros do Governo socialista fizeram uma «vaquinha» para presentear o seu líder na habitual troca de prendas neste Natal. Depois de no ano passado terem ofertado uma poltrona reclinável ao Primeiro-Ministro, em 2008 optaram por lhe dar liberdade de escolha, oferecendo-lhe um voucher no valor de 2550 euros (50 euros por cada membro do executivo) das lojas Fashion Clinic. Os subordinados de Sócrates não querem mesmo que o seu chefe perca o 6.º posto no ranking da elegância e bom gosto a vestir que lhe foi atribuído por um jornal espanhol.

Momentos de alta representação

Parece consensual que pese embora as boas audiências, os Gato Fedorento já tiveram melhores dias. Ainda assim, os sketches de fino recorte técnico-humorístico ainda foram um bom punhado neste «Zé Carlos». Ontem, tive oportunidade rever alguns dos melhores momentos e concluí que o que os «Fab Four» do humor sabem fazer bem é dar porrada no governo. O «Momento da Verdade» com o «pinó..», perdão, o Primeiro-Ministro Sócrates, é de ir às lágrimas.
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Gaffe presidencial

Depois da falha de som da RTP, aquando da comunicação veraniega de Cavaco sobre os Açores, e que motivou um pedido de desculpas formal a Belém por parte do canal estatal, hoje foi a vez de a SIC, no seu jornal do almoço, meter a pata na poça. Quando anunciava a intervenção à hora de jantar do PR, as imagens que passavam sobre a voz do pivot eram as do bombardeamento de Gaza pelos aviões israelitas. O braço direito do Presidente, Fernando Lima, já deve ter ligado para Carnaxide...

O Presidente dirige-se à nação

Para evitar a repetição do lamentável tabu de há uns meses atrás, o Palácio de Belém informa que Cavaco fala hoje à nação pelas 20h15. O Presidente vai interromper o jantar de milhões de portugueses para dizer que promulga, contrariado, o Estatuto dos Açores. Ninguém lhe vai ligar nenhuma. Com Cavaco nem é de prever que alguém fique engasgado. Nem mesmo o Governo.