Afirmar que o aumento da desigualdade foi o grande recuo dos últimos anos não é mera retórica política. Todos os dias os jornais trazem novas (e más) notícias sobre o sobreendividamento das famílias. Diz o «JN» que a crise tem obrigado os portugueses a devolver os cartões de crédito e de débito. Muitos viram-se na contigência de o fazer por não controlarem o simples impulso da tentação. Cerca de 60 mil cartões foram retirados de circulação num espaço de um ano. Algo nunca visto. E há os outros que não abdicam do vício de se endividar enquanto a orquestra vai tocando e o barco se afunda. «Se o Estado nunca deu o exemplo, quem sou eu para dar uma de poupadinho?», pensam. A verdade é que quem atinge determinado patamar de conforto e de consumo, dificilmente quer abdicar do que atingiu. Os bancos têm dado uma preciosa ajuda no enterro colectivo, mas ultimamente têm restringido as facilidades devido às taxas de incumprimento. Entidades como a Deco vão avisando da «bomba-relógio» que um dia vai rebentar. Os «novos pobres», como é fino e corrente dizer-se, estão tesos como um carapau, mas querem, a todo o transe, conservar seu «pedigree» social: já nao querem ir para a fila receber alimentos às instituiçoes de solidariedade. Preferem os vales de refeição da Cáritas, para que ninguém repare. Pobres, mas de espírito.
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