25 maio, 2009

"i"ndescritível


Aqui há uns anos, quando as novas empresas de comunicação social ainda não tinham despedido uma geração de jornalistas excessivamente caros, havia quem pelos jornais cronicasse a favor dos direitos humanos, liberdade e garantias. Entretanto, veio o 11 de Setembro, vieram os ataques ao Iraque. Alguns (escassos, muito escassos) dos velhos jornalistas não despedidos reconverteram-se. Houve quem passasse a achar que a tortura era justificável. Houve quem, apesar de benfiquista, tivesse elogiado o FCP, tamanha a desfaçatez. Entretanto veio o i, jornal do Grupo Lena. Havia quem temesse que, em anos de eleições, se enchesse de favores ao Governo. Mas ameaçavam trazer um novo jornalismo. Afinal, não. Na primeira manchete lixaram o rigor: «Sindicatos, patrões e governo: todos querem menos imigrantes». Nas páginas interiores lia-se outra coisa. Na CGTP não vingava a posição contra a imigração.
Nesse dia, com ou sem boleia, o Executivo diminuiu as quotas de imigração, não tanto quanto o PP quereria, mas mais do que um partido de esquerda devia fazer. Hoje, foi o zénite. Aproveitando a moda de ver quem bate mais no bastonário (José Miguel Júdice, convertido ao socialismo, começa a ter adversários fortes) - vincada pelo desplante de Marinho Pinto se ter atrevido a bater na corporação jornalística – malha-lhe também. Entre o tablóide e a falta de senso o “i” titula: “Ridicularizado: director da PJ diz que ninguém leva a sério Marinho Pinto”. No artigo dedicado à guerra na Ordem dos Advogados, a opinião de Almeida Rodrigues, director nacional da PJ, acabou por contar bastante. Um tribunal provou a tortura cometida por agentes da polícia dirigida por Almeida Rodrigues, mas o responsável da PJ prefere sacudir a água do capote. Entre a polícia que num estado democrático faz vista grossa à tortura – e que numa democracia a sério era de imediato demitida – e a tentação para malhar no Marinho, o “i” optou. E optou pela tortura.

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