05 março, 2009

«Musicjacking»

Para grandes males, grandes remédios, lá diz o povo. Fiel a esse aforismo popular, o produtor musical Tozé Brito, defendeu hoje que o governo faça um acordo com as operadoras de telecomunicações para vedar o acesso à internet a quem descarregue músicas ilegalmente. Diz ele que é meio caminho andado para o «fenómeno desaparecer».«Quando isso começar a suceder as pessoas pensam duas ou três vezes antes de fazerem 'downloads' ilegais», sublinhou, frisando que, embora a repressão judicial não seja o melhor caminho, «a prisão de meia dúzia de pessoas que agem ilegalmente, de forma sistemática, também teria efeitos positivos». Mais polícias e mais cadeias para tomar conta de uns milhares de pequenos vândalos informáticos? Reconheço que estão a estragar o negócio ao Tozé Brito, segundo o próprio a venda de CD's e DVD's caiu para metade, mas colocar em prática estas ideias é um perfeito delírio. «Roubar uma música é igual a roubar um carro», dramatizou, ainda mais, Tozé Brito. Uma espécie de «Musicjacking».

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu por acaso acho ilegal vender discos dos beatles a 20 euros. Não se pode prender quem o faz?nm

Vítor Maganinho disse...

«J. Roberto Whitaker Penteado consultor, jornalista e diretor da ESPM (in Jornal do Brasil)




"Y o ho ho e uma garrafa de rum..."

- estribilho de uma canção de piratas



Faz algum tempo que, ao assistir a DVDs, em casa, sou quase que literalmente obrigado a assistir aos trailers e comerciais que precedem o filme - pois o controle remoto não mais responde, como antes, ao comando de skip introductory shit. Claro que isso transgride a minha liberdade de consumidor e cidadão - mas quem se preocupa com isso, atualmente?


Um dos comerciais mais freqüentes - nessa veiculação obrigatória e clandestina no meu domicílio - mostra um pai de família que, semelhante a um pássaro que caçou uma gorda minhoca, traz ao seu lar um DVD pirata. Ao vangloriar-se do feito, ele é severamente repreendido por toda a família, liderada pelo filho.


Esta parece ser mais um filão da publicidade televisiva contemporânea: mostrar maridos e pais como perfeitos idiotas, diante das esposas e famílias. Há um - recente - em que o desventurado pater familias é agraciado, pela própria filha, com um nariz de palhaço, pelo crime de não saber que havia uma liquidação numa loja da moda...


Este comercial e outros, na TV, bem como os muitos anúncios veiculados no rádio e na imprensa, são assinados por presumíveis associações de indústrias ligadas a produtos protegidos por direitos autorais, como filmes, música e software de computação. Não é difícil imaginar as corporações gigantescas que devem estar por trás dessas bem-intencionadas associações.


Tenho pensado, contudo: o que, na verdade, é "pirata"? O DVD copiado artesanalmente, em casa, por pequenos empresários brasileiros? Aqueles fabricados industrialmente na China, sem pedir permissão aos seus donos? O processador de texto gentilmente cedido pelo amigo ou o namorado...


Mais: qual é a diferença essencial entre um CD pirata e um produto farmacêutico "genérico", coisa aprovadíssima pelos nossos governos (e que quase elegeu o ex-ministro da saúde de FH à Presidência)? Sabem de uma coisa? Nenhuma. As patentes e os direitos civis dos laboratórios que desenvolveram a droga foram simplesmente atropelados. E é muito tênue a linha que distingue um produto de consumo tradicional - de marca conhecida - de um outro que fica ao seu lado, na prateleira, e ostenta a "marca própria" da rede de supermercados. Em muitos casos, são produzidos pelo mesmo fabricante e oferecidos com embalagem e preço diferentes - não raramente, como resultado de uma "proposta irrecusável" por parte do varejista.


Até que ponto, a imitação, o produto copiado, o plágio e o sucedâneo não se tratam de ações de legítima defesa que a própria sociedade cria, diante dos cartéis e dos monopólios? Ou idealistas manifestações da desobediência civil, preconizada por gente grande como Thoreau e Gandhi?


Taí uma idéia que me faz sonhar com um Brasil novo, em que haja linhas aéreas piratas, telefones celulares piratas, empresas de água, luz e telefone piratas e - quem sabe - um governo pirata, que se mantenha no poder unicamente pelos próprios méritos e pela satisfação que proporcione aos cidadãos- clientes.»

Acho este texto delicioso e reflecte na perfeição o que eu penso sobre este assunto.