23 setembro, 2008

Estreito de «Magalhães»

Começar a construir a casa pelo telhado é uma velha arte portuguesa. Existem 500 mil computadores «Magalhães» para distribuir pelos alunos do 1.º ciclo, mas continuamos a ter dezenas de milhares de pessoas que não sabem ler, escrever e pensam que um computador é um bicho-papão. Os vulgarmente designados info-excluídos. E ao que parece, o novo PC está desprotegido face à atrevida curiosidade dos petizes mais irrequietos. Segundo um teste feito pela SIC, (claro está que para a RTP este computador só tem virtualidades), é só abrir o Google num destes computadores e clicar palavras tão singelas como «sexo», «vagina» ou «gatas maravilhosas», para um maravilhoso mundo se abrir aos olhos infantis. O Primeiro-Ministro não soube explicar esta falha de segurança. Balbuciou algo e zarpou para parte incerta. É melhor!

Nascer no TGV é outra loiça

Os portugueses têm a tendência para interiorizar que os casos terceiro-mundistas só acontecem no nosso País. Com o fecho de algumas maternidades, nascer numa ambulância, durante o percurso numa qualquer auto-estrada ou via rápida, já se tornou uma rotina. De Espanha, chega-nos a notícia que uma mulher senegalesa deu à luz uma menina no AVE (o TGV espanhol) entre Málaga e Madrid. A 240 kms/h, o bebé viu a luz do dia na cafetaria do combóio de alta velocidade espanhol. Pena que esta história não nos sirva de consolação. Os espanhóis já têm o seu TGV enquanto nós ainda estamos a sonhar com ele. Ou será pesadelo?

Licença para matar

Matti Juhani Saari colocava no YouTube os videos em que treinava a pontaria com a sua pistola Walther P22. A polícia interrogou-o ontem, mas sem ter provas, para além de a sua arma estar legal, libertou-o. Hoje, numa localidade remota da Finlândia, este estudante de 22 anos, atirou a matar. Tirou a vida a 10 jovens, seus colegas no centro de formação profissional em Kauhajoki. Se tivesse entre nós, tínhamos filme para 15 dias e a queda do ministro da Administração Interna. Mas se por cá os assaltos em série já são uma moda, os assassinos em série ainda estão por importar. Valha-nos isso.

22 setembro, 2008

Neck and neck

A revista «New Scientist» analisou 150 discursos políticos e concluiu que o de Barack Obama é o mais «manipulador». Estratégias à parte, a verdade é que o efeito Palin parece estar a esfumar-se. A seis semanas das presidenciais americanas, Obama tem 2 pontos de avanço sobre McCain. Mas a disputa permanece cerrada. Neck and neck como se diz por lá. Na madrugada do próximo sábado, os dois protagonistas enfrentam-se no primeiro assalto televisivo.

Anti-choque, anti-água e anti-bombardeamentos

O presidente venezuelano apresentou no seu programa semanal o computador “Magalhães”, de fabrico português, e descreveu que este portátil que será também vendido no país suporta o impacto de bombardeamentos. No programa “Alô Presidente”, no domingo, Hugo Chavez anunciou a compra de um milhão destes computadores para crianças de 5 a 11 anos e explicou que estes estão equipados com um sistema de corte de energia para evitar que os portáteis se avariem. «Este sim é um verdadeiro computador que aguenta bombardeamentos», acrescentou o líder venezuelano. Serão as relações Caracas-Lisboa à prova de tudo?

A frase do dia

«Não me ia meter nisto por dois anos se não tivesse em vista que este mandato só faz sentido como um mandato para arrumar a casa e preparar o mandato de fundo de, pelo menos, 4 anos», António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, Diário Económico, 22 Setembro 2008

São os automóveis, estúpido!

Depois do êxito da primeira edição do Dia Europeu Sem Carros, as iniciativas seguintes têm sido um autêntico bluff para enganar o povo. Cortam-se ruas sem saída e outras artérias de terceira linha para justificar o dia 22 de Setembro. O trânsito em Lisboa e Porto esteve caótico. No mesmo dia, o autarca-modelo Costa, anuncia um investimento de 5 milhões de euros para criar 40 quilómetros de novas vias cicláveis e recuperar outras existentes. Mais areia para os olhos dos concidadãos e uma forma de ganhar tempo até ao acto eleitoral daqui a um ano. A frase do dia, que em cima destacamos, explica o que acabámos de dizer.

Grandes homens, gestos simples

Corria o ano de 2005. Se não me falha a memória estávamos em pleno mês de Agosto. Adolfo Roque, fundador da Revigrés, líder em revestimentos e pavimentos cerâmicos, reconhecida nacional e internacionalmente, e patrocinador do FC Porto há 27 anos, recebeu-me para uma entrevista no seu escritório em Barrô, Águeda, paredes-meias com a enorme fábrica. Falou, abertamente, e sem restrições do seu negócio e especialmente da ameaça comercial que, já então, se desenhava a Oriente, através dos chineses. Houve tempo e disponibilidade para um almoço descontraido - na Bairrada, só podia ser mesmo leitão. De seguida, mostrou-me um pouco da sua terra natal, Barrô, e do legado que deixaria aos seus quando, como o comum dos mortais, deixasse a companhia dos vivos. Adolfo Roque morreu hoje aos 73 anos. Ao ler a notícia, procurei reconstituir todos os momentos desse dia. E recordei-me dos gestos e das palavras simples de um homem que construiu e deixa um vasto império. Afinal, ele foi um dos grandes empresários portugueses. Pena que poucos tenham reparado por isso.